Hospital
Central de Bleak Hill.
Claire
Winnicott se encontra ao lado de uma paciente em estado terminal. A mulher,
visivelmente abatida pela doença, aparenta ter bem mais que seus trinta e cinco
anos, e seu ânimo definha ainda mais rápido que a saúde.
— Essa
é a verdade, é sim. — Diz ela, mão frágil segurando na mão da jovem estagiária.
— Enquanto eu era útil pra ele, era bonita e caia na sua conversa, ele “me
amava”. Agora, depois de passar seis anos esperando e confiando nele, fazendo
tudo por ele...
A voz
é interrompida pelo choro, a jovem segurando com as duas mãos a delicada mão da
paciente, seu olhar demonstrando empatia e atenção para uma mulher solitária.
— Estou
morrendo, Claire, eu sei. E o homem que amo mais do que tudo, nem mesmo vem me
dizer adeus.
Claire
olha nos olhos dela, sentindo a intensidade da dor que carrega, se esforçando
para reter uma lágrima que busca saída.
Não há muito que eu possa dizer. — pensa
ela. — Ou talvez seja minha inexperiência, no fim das contas. Bem, tem horas em
que tudo o que uma psicóloga pode fazer é estar aberta para acolher a dor da
outra pessoa.
Minutos
depois, a jovem está na cozinha do hospital, bebendo chá quente ao som do
noticiário local, devidamente ignorado por ela, perdida nos próprios pensamentos.
Ela está morrendo, completamente abandonada
pelo homem que ama. Ela sabe que foi usada, sabe que tudo o que ele lhe dizia
eram mentiras, que ela nunca seria a única na vida dele. E ainda assim...
Uma
lágrima molha seu rosto, que logo é enxugada pela garota. Ela respira fundo e
bebe do chá, tentando aquecer o corpo, e o coração.
Ainda assim ela queria vê-lo, queria
estar com ele, acima de tudo. — Um sorriso triste se segue. — Uma boba, assim
como eu sou.
— Ei,
ei loirinha! — grita, uma voz feminina. — Estava te procurando por todo canto!
Claire
olha assustada para a faxineira do hospital, uma mulher de meia-idade, acima do
peso e sorridente.
—
...sim?
— Teu
namorado tá no hospital. — ela diz. — Ouvi que o coitado tá todo mordido e
arranhado, vai lá vê!
— O
quê!? — Dessa vez é a Claire que grita, enquanto se ergue por impulso, deixando
cair no chão a xícara e o líquido que não é mais capaz de aquecê-la.