domingo, 24 de janeiro de 2016

Capítulo 20 - Missa Noturna


Catelo Tepes.

O vampiro adentra o salão secreto onde guarda suas maiores riquezas materiais. Desde o mês em que retornou dos mortos que não volta a esse lugar, e embora uma parte delas foram leiloadas por Lincoln, para levantar o dinheiro necessário para recomeçar sua vida no tempo atual, e outras foram espalhadas pelos cômodos do castelo, para sua surpresa, continua impressionante a visão das relíquias que esse cômodo guarda. Lincoln observa com preocupação seu mestre parando diante de uma velha arca fechada, seu objetivo ao voltar aqui. Destrancando calmamente a fechadura que prende a tampa, o vampiro é iluminado pelo brilho prateado do objeto que lá reside.

O mordomo se aproxima trazendo um par de luvas brancas, que o vampiro calça, antes de finalmente retirar o objeto de lá. Uma espada. Lâmina de prata, maior e mais pesada do que um homem poderia manejar com uma só mão. Não que para um vampiro como ele isso faça diferença.

Faz trezentos anos desde que empunhei você pela última vez, pensa ele, a única coisa que herdei do meu pai, para além do seu sangue e maldição. Assim como o instrumento de sua morte.   

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Capítulo 19 - Quando a Noite Cai


Bleak Hill.

Ela corre pela noite escura, com seu pelo cinzento recobrindo seu corpo meio humano–meio lupino, escondendo sua forma monstruosa dos olhares da gente comum. Após correr sem parar até se afastar o suficiente do hospital, Evelyn se deixa enfim cair sobre a grama fria. A sensação é agradável, e ela permanece assim, deitada e de olhos fechados, por algum tempo. As roupas se rasgaram durante a transformação (assim como o pescoço de uma enfermeira que viu mais do que devia), mas ela ainda teve tempo de roubar o celular da mulher antes de saltar do 3° andar do prédio. A fuga cobrou seu preço: a perna que já estava ferida pelo tiro, piorou após a queda, junto do braço em que se apoiou para não bater de cabeça no chão.

Eu tô acabada. Os tiras me reconheceram na mecânica, os médicos também... — Ela pensa, enquanto se senta e olha para o celular. — Tenho de dar o fora dessa cidade.

Ela observa ao redor, e não vendo ou sentindo ninguém, se arrasta até uma árvore na qual se escora, esperando o corpo se recuperar dos estragos.

Só mais um pouquinho... e ai eu posso seguir a viagem como loba. Ainda posso me juntar ao bando...ao Malcon. Depois é dar adeus a esse lugarzinho de bosta e minha vida dupla. Dar adeus a universidade, dar adeus a ... Claire.

Ela suspira enquanto disca um número no celular, totalmente ignorante quanto aos olhos que a observam na escuridão.