terça-feira, 26 de abril de 2016

Capítulo Final - A Esposa do Demônio


É uma noite fria, em que densas nuvens choram sobre corpos de vivos e mortos. Diante do castelo, um espetáculo de sangue e morte que somente seu amado é capaz de proporcionar. O som de carroças e cavalos, disparos de mosquetes e de bestas, gritos de homens e animais em pânico... Ela assiste a tudo isso sem muita esperança, algo em seu coração, dizendo que é o fim. Adam partiu para o campo de batalha, determinado a exterminar cada um daqueles muitos homens que ameaçam sua casa.

Na defesa do castelo, apenas uma dúzia de homens. Gente da própria região, muitos na verdade são maridos ou filhos das empregadas, que o casal contratou há poucos anos. Foi um duro golpe para Marie ver que dentre os doze guardas, cinco fogem com seus parentes (e alguns espólios) ao ver a aproximação dos inimigos, e os outros sete resolvem mudar de lado quando ouvem que seus patrões são “uma bruxa e um vampiro”. Bruxa, a desculpa perfeita para que aqueles homens “leais e obedientes” de antes, se achem no direito não só de traí-la, mas também violá-la, para só depois entregá-la aos invasores. Infelizmente para eles, Marie Winnicott tem uma espada, e sabe usá-la muito bem.

Passados alguns minutos, é com pesar que ela puxa a espada do peito do último dos traidores, não esperava que o respeito e generosidade dela para com eles valesse tão pouco. Sete corpos espalhados pelas escadas antes mesmo que os inimigos entrem. Na verdade oito, pois uma das empregadas não reagiu muito bem ao encontrar o corpo do marido pelo caminho, e decidiu que seria ela mesma a vingar seu amor. Não durou muito. Quando os inimigos chegaram, não houve resistência alguma para além de uma jovem surpreendentemente bela, com uma espada em mãos e um coração determinado.

Ela sabe que Adam faz o impossível lá fora, mas as vezes, mesmo o impossível é insuficiente.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Capítulo 22 - Os Laços que nos Unem



René avança.

Agora com a espada em uma mão e uma adaga na outra, utilizando todo conhecimento marcial acumulado em seus séculos de existência.

— Desista. A essa hora já devia ter percebido que não é um adversário digno. — Adam diz, após desviar de um ataque giratório e desferir um corte que pega da parte superior do tronco até o rosto do adversário.

René perde o equilíbrio e cai no chão. Sangue flui farto de seu olho e lábio esquerdos, agora cortados, encharcando sua blusa rasgada e o que restou de seu terno. Adam observa a vampira, sempre atenta aos seus movimentos, enquanto mantém Claire sob a mira de uma arma e de presas semi-encravadas. O obstinado vampiro se ergue novamente, apoiando-se na espada, com sua pele aos poucos regenerando todo dano sofrido.  

Pardon, mas é difícil para mim parar quando estou no auge da diversão. — Ao dizer isso, o vampiro começa a emanar uma aura ainda mais intensa.

É visível para Adam que o vampiro não só usa o sangue para regenerar seu corpo, como para ampliar seus atributos físicos, o deixando mais poderoso que antes. Algo que deseja encerrar. Assumindo a forma de um enxame, o filho do Drácula parte para cima de seu adversário, com o som de centenas de pequenos demônios alados confundindo seus sentidos, para em um último momento assumir sua forma real, desferindo um golpe capaz de decapitá-lo!

E é ai que tudo acontece, e em um piscar de olhos.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Capítulo 21 - Sem Medir Consequências



O Golem está dentro.

Do alto da parte superior da velha igreja, em uma área interligada por colunas e sacadas ornamentadas, o mascarado encontra seu alvo: Mandy Duncan. A adolescente está nua, grossos braceletes de prata prendendo seus pulsos, tornozelos e pescoço, de cabeça baixa e postura ereta e iluminada apenas pela luz de velas, enquanto é banhada por um homem vestindo um manto escarlate. O banho consiste em um jarro cheio de sangue sendo lenta e cerimonialmente derramado sobre a cabeça da jovem, em um ritual profano. O homem tem cabelos negros, pele muito branca e unhas proeminentes. Seu manto possui adereços dourados, bordados em ouro e formando desenhos intrincados. O Padre, com certeza. Próximos aos dois, quatro garotas portando armas, metade com lâminas, metade com fuzis, formando um círculo em volta do religioso e seu sacrifício.

O padre vampiro parece encerrar seu ritual, por um momento afastando-se da jovem estática, que agora é vestida por uma das garotas. A chance que ele esperava. O Golem salta em direção a refém, parando a meio metro do chão (seguro por um cabo com arpão), em seu movimento de descida, quebrando o pescoço da inimiga mais próxima, para em seguida ser puxado de volta pelo cabo enquanto pega a loba pela cintura. Tudo muito rápido, para espanto dos presentes. Uma vez de volta ao alto e com seu prêmio, o Golem ativa a música: sua melodia característica, vinda de gravadores posicionados em diferentes trechos do caminho trilhado. O Padre apenas observa enquanto a dupla de fuzil dispara na direção do invasor e a jovem de faca corre ao auxílio da amiga moribunda.