sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Capítulo 17 - O Filho do Drácula


Cidade de Tirgoviste, Valáquia, 1476.

Um imponente e imenso castelo se destaca em meio as centenas de hastes de madeira que cercam a propriedade. Na maior parte delas, pessoas empaladas: homens, mulheres, idosos, crianças... Aproximadamente cem vítimas cobrem a área, e ao menos trinta delas não devem ter mais que um mês ali. Dessas, dez não devem ter mais que um dia, devido à vontade com que os corvos se alimentam de seus corpos. Também chama a atenção o número igual de hastes vazias. Como um aviso. Como uma ameaça.

É este o cenário que Adam encontra ao se aproximar do castelo de Vlad III, O Drácula. Parado em seu cavalo em frente ao portão do castelo, aguarda a permissão para entrar no lugar. Após meia hora de espera, o guarda retorna com a permissão para que Adam entre no local em que por direito deveria viver, no castelo do seu pai. “Pai”, essa é uma palavra estranha e difícil para o rapaz, após tantos anos isolado em uma terra distante, é difícil pensar no monarca dessa forma. Adam está vestindo uma casaca marrom sobre roupas de tonalidade verde, com botas resistentes e espada na cintura. Olha com admiração mal disfarçada o enorme castelo em que o pai vive, as colunas altas e cuidadosamente esculpidas, os largos corredores por onde poderia passar um grupo de homens lado a lado, os quadros e estátuas fazendo referência aos antepassados de seu governante. Como imaginava, nenhuma referência ao casamento com sua mãe ou ao fruto dele: ele próprio.

Seguindo o protocolo, o jovem entrega a espada ao chefe da guarda, antes de adentrar no salão do trono. Lugar esse magnífico, com exóticas obras de arte de terras longínquas, esculturas, armas e pinturas que dividem além da beleza, um único tema: o horror. Monstros, demônios, criaturas das trevas, sangue e morte. O salão possui uma fraca iluminação por castiçais de velas, iluminando apenas a parte mais próxima da entrada e dos seis guardas que se espalham por ela, o que dá um aspecto tenebroso a todo o ambiente. As obras de arte se espalham por todo o vasto salão, dividido por colunas e cortinas escuras, assim como por uma escada de pedra que leva a um trono de metal, com símbolos dracônicos e pedras preciosas.

Do alto das escadas, no centro de tudo e sentado em seu trono, está o homem mais poderoso e temido, não só da Valáquia, como de grande parte da Europa. Mais alto que a média, de ombros largos e porte atlético, veste roupas negras feitas exclusivamente para ele, com detalhes em ouro e pedras preciosas nos botões, anéis e cordões que usa. Grossos bigodes formam um quase cavanhaque, longos cabelos, negros como os bigodes, soltos sobre parte do rosto. Um homem imponente, para dizer o mínimo. Em seu colo, uma jovem e bela mulher, nua como veio ao mundo, emite sons de prazer enquanto tem seu pescoço beijado pelo príncipe.

O jovem permanece parado, frente ao homem que dizem ser seu pai. Encara firmemente o vulto do senhor daquelas terras por cerca de cinco minutos após ser anunciado, tempo que pareceu uma eternidade. Mesmo após encerrar sua demonstração de lascívia, deixando uma mulher exausta caída ao lado do trono, não é possível discernir maiores detalhes da face daquele que reina solitário na semiescuridão. Quase como uma escultura de si mesmo, ele não dá qualquer sinal de vida, mesmo após Adam parar em frente aos degraus que levam ao trono. Seus olhos aos poucos se acostumando a escuridão, enxergando as duras feições do monarca.

— Vai me ignorar, majestade? — pergunta ele, num misto de impaciência e raiva.