sexta-feira, 29 de maio de 2015

Capítulo 7 - Melodia da Morte


Sob uma chuva intensa, com vento forte e visibilidade baixa, Pietra dirige, carregando ao lado do corpo uma escopeta. Graças as dicas do professor, conseguiu encontrar o carro dos alvos, e se esforça para não perdê-lo de vista. Paul segura a pistola que ela lhe deu, reconhecendo as armas como sendo aquelas de que o vendedor da loja falou ao Golem.

“Se a situação obrigá-lo, use isso”, disse ela,  “É uma pistola comum, porém a munição é de prata, uma fraqueza dos demônios”.

Ele se põe a analisar a situação.

Ela é forte, os vampiros que matou deixam isso claro, reflete ele, a questão é: o quão fortes esses dois são?

Se estivesse com a máscara e o traje, ele se sentiria mais confiante. Como Golem, Paul Davis é capaz de resistir a tiros e murros, capaz de submeter seus inimigos ao medo e horror. Foi assim que matou tantos caçadores de vampiros até hoje. Ainda assim, decidiu ir apenas como ele mesmo, um simples homem, ao restaurante, pronto a encontrar e matar uma mulher. Mas não vampiros.

Adam, Adam, será você realmente o Vlad Drácula?, se pergunta, se matá-lo, posso esperar por um milagre, ela será devolvida à mim, tal como era à dois anos atrás?

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Capítulo 6 - Brincando de Gato-e-Rato


Residência dos Winnicott, noite.

Em uma casa grande e com quintal ainda maior, uma jovem sai do banho com uma toalha cobrindo o corpo e outra enrolada na cabeça. Uma gata se espreguiça ao som de Amy Winehouse, enquanto sua dona usa o secador de cabelo e passa maquiagem no rosto. Desfilando um corpo de belas curvas, passeia nua pelo quarto, um conjunto de cama, armário, mesa de computador e escrivaninha, seu santuário particular.

Detendo-se diante de um colar em forma de cruz, a garota coloca-o no pescoço, lembrando-se daquele que lhe deu o presente, do beijo intenso que deram na noite da festa. Algo que mexeu com ela como nada antes já fizera. Ela ri ao notar que ficou levemente ruborizada, e dançando sozinha diante do espelho, se entrega a música.

Adam...Adam Tepes. Quem é você realmente? Capaz de me virar de ponta-cabeça em um piscar de olhos, capaz de me deixar totalmente caída em tão pouco tempo.

A gata pula na janela do quarto, localizado no andar de cima e sem casa alguma em frente, de onde pode se ver à distância, um velho castelo em cima de um monte.

Logo eu, que sempre esnobei caras populares ou ricos, que procurava motivos para terminar, apenas por não sentir que valia a pena continuar...por não me sentir pronta para...

Ela fica novamente envergonhada, e cobrindo-se com a toalha, vai lentamente até a janela. Acaricia a gata, sua maior confidente, e olha para o castelo, lar do misterioso homem que conheceu.

Por que seria tão simples me entregar à você, como nunca me entreguei a ninguém? Sei tão pouco sobre você, e ainda assim, me sinto incapaz de duvidar, de me afastar, me proteger.

Não se pode fugir de um amor que transcende o tempo.

Diz uma voz em seu coração, suave e distante... mas estranhamente familiar.

— Acho que estou ficando louca, Fiona. — Diz, para uma gata preguiçosa.

— Quem é você, Adam, capaz de me tirar o chão e a sanidade?

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Capítulo 5 - A Santa e o Demônio


É noite, próximo a um hotel de beira de esquina e preço baixo, Paul aguarda pacientemente por seu alvo. O professor está em um carro esporte, parado atrás de algumas árvores. Com luzes apagadas e binóculos, ele identifica um veículo no estacionamento que bate com a descrição que busca.

Até que não foi má ideia rondar os poucos hotéis na entrada de Bleak Hill, ele pensa.

A chuva cai tediosamente, as horas se arrastam, apenas uma garrafa de café o mantém alerta. E, é claro, a expectativa da ação. Geralmente seria o Golem a cuidar de alguém perigosa como essa caçadora, mas dentro dos limites de Bleak Hill, essa não é uma opção. Até hoje as ações do Golem foram em outras cidades, e ele não quer levantar atenção desnecessária para esse lugar no meio do nada.

Após algumas horas de espera, seu alvo dá as caras! Saindo de dentro do hotel surge a mulher: grande e de sobretudo marrom, cabelos muito negros, rosto largo e sem guarda-chuva. Ela anda até o carro, atenta aos arredores e carregando uma bolsa de viagem.

Hora de começar a caçada, ele pensa, enquanto guarda o café.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Capítulo 4 - Velhos Pecados


A chuva cai torrencialmente do lado de fora do castelo, trazendo um som, cheiro e atmosfera que deixam Adam nostálgico.

Marie adorava noites chuvosas, lembra.

Ele está de pé na sacada, o vento frio soprando em seu rosto e levantando os longos cabelos negros. Atrás de si, o quarto em que viveu como casado há algumas centenas de anos atrás, um antigo quadro restaurado como única lembrança desse tempo feliz. Desde que voltou do sono eterno, o lugar lhe traz um misto de tristeza e conforto, esperança e desilusão. Pois este é tanto o local em que Marie morreu, como aquele em que conheceu Claire, passado e presente se fundem nele, e o futuro, é exatamente aquilo que o vampiro teme.

Será que a Claire também gosta de noites assim? O quanto ela tem da mulher que conheci, afinal?

— Creio que o senhor já postergou o bastante esse momento. — fala o mordomo Lincoln, parado como uma estátua alguns metros atrás do vampiro. — Há três noites que não se alimenta, isso não pode continuar.

O homem se move para o lado, dando visão para a cama e as três mulheres deitadas nela. Elas aparentam ter algo entre vinte e cinco e trinta anos, usam roupas decotadas e maquiagem forte, e no momento, estão inconscientes. Prostitutas, ele deduz.

— É, acho que sim. — Adam exibe um sorriso nervoso enquanto olha para o trio, seus corpos convidam ao pecado, mas tudo o que ele quer delas é o sangue. E não poderia ser diferente, principalmente ali.

— Não queria ter que chegar a esse ponto, mas o senhor não me deixou escolha. — O homem guia lentamente o vampiro até suas vítimas, fazendo aquilo que sabe ser necessário. — O senhor deixou de caçar nas cidades vizinhas, recusa-se a beber dos moradores da cidade e somente a força aceitou meu próprio sangue, três noites atrás.

— Não esperei tantas décadas para vê-lo definhar e morrer. — Ele diz, com olhar firme e mão forte. E depois sai do quarto.

Adam se senta ao lado delas, belas mulheres que lhe venderiam de bom grado seus corpos, mas não seu sangue.

— Veja só, Claire! Seu bom salvador se aproveitará de mulheres indefesas, não sou melhor do que os homens a quem quase matei. — Presas de fora, um leve gemido de dor da primeira vítima, e o vampiro começa a perder-se no prazer sanguinolento.

... não, sou muito pior.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Capítulo 3 - Máscara de Pedra, Máscara de Carne


Seis messes atrás.

Em um quarto de apartamento alugado, um sujeito careca dorme só de calças sobre um colchão duro como a vida. Ao alcance do corpo, jaz uma pistola de grosso calibre, com balas do tipo certo para aquilo que ele quer matar. Tão perto quanto, garrafas de cerveja barata, do tipo certo para fazê-lo aguentar a vida que leva.

De repente, um som exótico e suave corta o silêncio. Música hebraica — não que o caçador de vampiros tenha algum interesse em saber. Ele abre os olhos, assustado, enquanto estende a mão para a arma por puro reflexo. Com sua rotina de caça às criaturas noturnas, está acostumado a passar as noites em claro e depois beber até cair no sono.

Por que raios tô sendo atacado de manhã?, ele se pergunta.

Mal tem tempo de pegar a arma: vê um vulto saltando pela porta recém-aberta. O quarto está escuro, tudo que consegue discernir é uma figura encapuzada e com uma capa que esconde o resto do corpo.

Ele atira uma, duas, três vezes, mas o estranho simplesmente joga o corpo contra o dele, lançando-o contra a parede, enquanto desvia dos tiros. Seus ossos doem, mas ainda é rápido o suficiente para atirar antes de receber outro ataque.

Será que ele sabe que eu tô de ressaca?, ele se pergunta, no mesmo instante em que aperta o gatilho.

Acerta então um tiro em direção à cabeça do misterioso inimigo.

Com essa ele morre! Com certeza não é vampiro, pra estar agindo de dia, e se for um capanga, não tem como sobreviver a isso, imagina.

No instante seguinte ao tiro o capuz é rasgado, voando para trás, revelando assim uma face bizarra que parece feita de pedra, agora com uma rachadura lateral onde o tiro acertou de raspão.

Que... que merda de monstro é você!? — Pergunta um caçador de vampiros experiente, agora assustado, caído e escorado numa parede gelada.

Sou sua morte. — diz o invasor, com voz sombria.