A
primeira sensação é o cheiro.
Cheiro
de medo, de alguma forma ele sabe.
Em
seguida, a visão. Homens correndo e tropeçando uns nos outros, fitando-o com olhos
arregalados e horror estampado na face!
Vocês tão correndo, de mim?
Depois,
vem o gosto. Gosto de sangue, de homens vivos e mortos. Ele olha para um homem se
arrastando, as costas dilaceradas e um braço arrancado, de onde flui sangue
abundante.
Fui eu? Eu fiz isso?
Então
vem o som. Som de tiros e gritos, uma mistura de raiva e desespero traduzida em
disparos e urros. Seus ouvidos vibram ao som alto.
Parem, esse barulho tá me deixando zonzo!
A dor
é a sensação seguinte. As balas atingindo seu corpo e o sangue espirrando por
todo lado. Ele cai, grunhindo de dor em um chão banhado em sangue. Seu sangue.
Vocês querem me machucar? Me matar?
E por
fim: a raiva. Uma fúria crescendo dentro dele, um fogo capaz de consumir a tudo
e a todos, incluindo ele mesmo. Um ódio capaz de tirar a sanidade e qualquer
resquício moral, deixando apenas a selvageria brutal.
Desgraçados...desgraçados...desgraçados...
Não
há mais lugar para o pensamento, apenas instinto. Ele é um predador, e nada
mais que isso.
Agora
vocês são minhas presas. Agora vocês tão mortos.
[...]
Em um
quarto apertado e mal conservado, o garoto abre os olhos. O barulho de batidas
na porta, trazendo-o de volta a realidade.
Seu
nome é Andy Valentine, um garoto de cabelos negros quase na altura dos ombros,
olhos de um azul escuro, corpo atlético e baixa estatura. Aos quinze anos de
vida, uma das poucas certezas que tem é que acordar suado e assustado não é
algo de que goste, e depois do horário do colégio novo, muito menos.
— Que
merda, não era pra ter faltado de novo. — Resmunga para si mesmo, enquanto veste
uma calça e vai na direção da porta, tudo ao som das batidas.
Ao
abri-la, se vê diante de um idoso magricela apoiado em uma bengala, usando chapéu
e um grosso casaco, encarando-o com um ar de desprezo e falando com bafo de cigarro:
— Isso
lá é hora de dormir? Quando tinha sua idade, as 10h00 eu já tinha trabalhado
mais do que você em sua vida inteira.
Andy
encara o velho James Costner, dono dessa e das outras duas pensões da cidade — além de um prostíbulo, mas disso ele
não sabe — Boceja preguiçosamente e
então responde:
— Perdi
a hora, velhote. Devia ter ido pra escola.
— Geração
dos infernos essa sua, mal educados e preguiçosos, esperando tudo de mão
beijada. Você me deve o aluguel pela nova semana se quiser ficar aqui, ou paga
ou tá na rua!
Andy
não é conhecido por ter muita paciência, e hoje acordou com ainda menos que o
normal.
— Tá
bom, velho. Até a noite te pago ou meto o pé.
— ...Acho
bom não tentar me enrolar, moleque, não gosto de gente metida a esperta. — O
homem então se afasta, o som da bengala marcando o ritmo do seu caminhar arrastado
rumo a escada que leva ao andar de baixo.
Aborrecido
pelo pesadelo, por adiar novamente sua entrada no colégio novo e pelo ultimato
do velho, Andy termina de se vestir, põe a mochila nas costas e decide andar
pela cidade. Ele faz um princípio de
despedida do seu lar alugado e fedorento da última semana, um lugar velho como seu dono, e tão barato quanto.
O
garoto decide fazer um tuor pela cidade, explorando áreas por onde ainda não
esteve durante seus primeiros dias nela. Com as últimas notas que sobraram,
compra um lanche gorduroso e barato, que vai comendo lentamente, na esperança
de que ele o sustente até o fim do dia.
Mudar
de cidade era necessário. Depois de tantas casas invadidas para roubar, uma
hora ele acabaria ficando marcado, e nada pior para um ladrão que isso. Sem
falar nas brigas, Andy mandou tanta gente para o hospital só no último ano, que
devem estar todos superlotados. Diferente da sua cidade natal, Bleak Hill é pequena
e pacata, com pouco policiamento e cheia de casas grandes, com terrenos maiores
ainda, de muros baixos e cerca quebrada. Uma cidade com grande potencial para
alguém como ele.
Mas
embora não queira pensar nisso, ele sabe que o principal motivo para vir para esse
lugar é outro: o medo. Medo de que
aquilo que ocorreu com ele no mês passado volte a acontecer. Medo de que o
pesadelo que o persegue por todas as noites nas últimas semanas, se torne
realidade novamente. Medo de voltar a ser um mons...
— Ei,
garoto! — sua reflexão é cortada pela voz de um homem.
De altura
mediana, cabelos e olhos castanhos, na casa dos trinta anos, roupa suja de
graxa e uma oficina mecânica como cenário de fundo, o homem o encara com
curiosidade, enquanto pergunta:
— Tu
é novo na cidade, né? Se tiver procurando alguém é só dizer, que o Jimmy aqui
conhece todo mundo. — E ele abre os braços, enfatizando a frase.
O
garoto raciocina que o jeito intrometido do mecânico deve ser coisa de cidade
pequena.
— Jimy,
“HUNF”, “HUNF” — Sussurra uma voz de menina, surgindo por traz do mecânico. Uma
garota de não mais que quinze anos, com alguma leve semelhança com o sujeito,
só que bonita. Cabelos presos e macacão de mecânica sujo, junto ao fato de
estar fungando para o cheiro de alguma coisa, emprestam um ar engraçado a ela —
Esse cheiro é de...
O tal
Jimmy tapa bruscamente a boca da garota, enquanto coloca o braço pelo ombro do
Andy, puxando-o para perto, e falando:
— Tá
parecendo meio perdido, garoto, tipo um... cachorro sem dono.
Precisa de ajuda?
Andy
se solta sem dificuldade, se afastando dos olhares estranhos e das perguntas
inconvenientes.
— Sei
me virar, falou? — responde um Andy desconfiado, deixando para trás um casal de
mecânicos com olhos de pura curiosidade.
Muitos
passos depois, ele tenta esquecer dos mecânicos, e pensa apenas em analisar a
cidade, seus pontos fortes e fracos para seus objetivos ladinos. Após passar o
dia todo rodando, viu todo tipo de casas, uma igrejinha clássica e um castelo
distante, e se conformou com sua condição de futuro sem-teto. Já com muita fome,
ele contempla a noite chegando, e decide voltar para a pensão antes que algo ruim aconteça.
O
garoto sabe que precisa urgentemente entrar em um local fechado, e encontrar o
velho Costner sentado em frente à entrada da pensão é um mal sinal.
Puts, sem grana o saco de ossos nem vai
me deixar entrar, pensa ele.
Andy é
naturalmente muito habilidoso, e usa disso para entrar no andar de cima sem ser
visto, pulando um muro e escalando uma grade, rumo ao cubículo que chama de
quarto. Lugar esse que mal tem espaço para uma cama de solteiro toda torta e um
guarda roupas caindo aos pedaços. Sem perceber, se pega fitando o luar, da janela
por onde entrou.
Melhor fechar essa merda, conclui.
Ele fecha
e deita na cama, pensando no que deixou para traz no lugar de onde veio, e no
que pode estar para acontecer.
— Nem
é hora de pensar nisso, tenho que arrumar minhas coisas e descobrir como vô
sobreviver nessa bosta de cidade no meio do nada — ele fala para si mesmo. — Pelo
jeito, vô ter que “trabalhar” mais cedo do que eu esperava.
Terminada
a arrumação, com meia dúzia de peças de roupa, um uniforme escolar e uns poucos
itens pessoais dentro da mochila, o garoto percebe que já são meia-noite,
exatamente como na vez em que aquilo aconteceu. Sente um frio
na espinha, uma dor sutilmente começando a espalhar-se por todo corpo, uma
febre que fica cada vez mais forte...e a vontade de vê-la. De ver a lua cheia.
Merda, tá acontecendo de novo, conclui.
Ele
arrasta os móveis para a frente da porta trancada, enquanto se esforça para resistir com dignidade a dor que só aumenta. Ele sempre foi excepcionalmente
resistente, e nessa noite, os céus parecem estar colocando essa qualidade à
prova. Andy rilha os dentes enquanto cai de joelhos no chão, tentando não chamar
muita atenção para o quarto, enquanto sente uma dor que já teria deixado
qualquer outro fora de si.
Ele
perde completamente a noção do tempo, enquanto busca manter o controle — e a
sanidade. O garoto sente o calor sufocante queimando o corpo todo, e uma raiva intensa:
da dor, do velho que vai mandá-lo embora, da cidade e de si mesmo. Após uma
luta que pareceu eterna, ele percebe que perdeu. Simplesmente não consegue mais
conter!
Ele
grita, urra de dor! Seu corpo começa a mudar de um modo sobrenatural, com ossos
e músculos se moldando numa nova e monstruosa forma. Pelos brancos começam a
crescer por todo corpo, como se fossem agulhas perfurando sua pele para forçar
saída, sua boca vai sendo brutalmente rasgada enquanto se abre cada vez mais
para dar espaço a presas; garras grandes e afiadas surgindo de dedos que ficam
muito maiores que o normal.
Enquanto
a dor alcança o seu ápice, ele ouve ao longe o som de batidas na porta e de uma
voz conhecida atrás dela. Andy se vê então
sobre quatro patas, músculos e tamanho dignos de um monstro de cinema! A
dor começa a diminuir, dando lugar a uma vontade louca de correr e caçar. Seus
novos sentidos ouvindo a voz do velho Costner gritando do outro lado, o cheiro
de tabaco sufocando e enraivecendo o monstro. A janela é arrombada com
facilidade por um bicho meio-homem, meio-lobo, que salta sob a luz da lua em
direção a floresta, numa demonstração de grande força de vontade para não
rasgar o homem em dois e arrancar sua cabeça fora.
Seu
mundo é invadido por cheiros de pessoas, de objetos, árvores e bichos. Ele
corre, atravessando ruas desertas até chegar aos limites da cidade.
Merda, tudo fede muito forte, pensa o
lobo, que até há pouco se chamava Andy.
Ele
sente que é dono de um corpo muito forte e rápido, mais que qualquer humano
devia ser. E por falar em humanos...
Cheiro de gente, cheiro bom, pensa ele.
Ele se
aproxima furtivamente da fonte dos odores, com olhos vermelhos cor de sangue
espreitando entre as árvores. Um casal, formado por uma garota negra e um rapaz
ruivo, a única fonte de luz vinda de um lampião próximo dos dois, iluminando a
garota encostada contra a árvore, com o rapaz entre suas coxas, os dois suando
muito entre beijos intensos e mãos que passeiam sobre os corpos um do outro.
Ele pode ouvir seus sons, o cheiro do suor e as palavras sem sentido que ele
fala enquanto ela ri, sem nem sinal de perceberem-no.
Qual será o gosto deles? — Se
pega pensando, enquanto saliva e se aproxima da carne que saciará sua grande
fome.
De repente, o horror! A
percepção do pensamento, o medo daquilo que se tornou e a fuga como única
solução. Tudo vira um grande borrão enquanto o garoto-monstro foge pela
floresta, pensando em qualquer coisa que não seja comer, evitando olhar para a
lua brilhante no céu, que o convida a abandonar toda humanidade e se juntar aos
outros predadores da noite. Ele avança sem destino, se cortando e machucando
durante uma corrida insana, tentando achar as palavras para repetir a si mesmo:
Você é o Andy, você é o Andy, você é o
Andy...
Ele
tenta se agarrar as palavras.
Você é humano, você é humano, você é
humano...
Sua
luta interna parece levar uma eternidade, até ser bruscamente interrompida,
Andy mal tem tempo de sentir o cheiro da criatura e um golpe forte como a
batida de um carro o lança contra o chão. Dor, cortes profundos no peito, de
onde jorram sangue abundante trazem o garoto de volta a consciência.
Essa coisa tem garras, Andy pensa.
Depois,
contempla um monstro tão assustador quanto ele se imagina ser, de pé, logo à
sua frente.
— Tu
é novo nisso, né? Não consegue controlar a raiva? — pergunta uma voz cavernosa
que de alguma forma parece familiar, vinda de um monstro de pelos marrons e
olhos negros.
O
garoto é tomado pela raiva, mas também pelo medo.
Forte, muito forte.
Por
um momento ele se esquece do que se tornou, e se vê como um simples garoto diante
de uma criatura saída de um pesadelo. Então um golpe, e depois outro. O garoto
monstruoso se vê vítima de uma chuva de poderosos murros, capazes de fazê-lo
chocar-se contra as árvores com violência sobre-humana. O sangue começa a embaçar
sua visão, a dor e a fome o levando a inconsciência...
[...]
Andy
acorda com o sol no rosto e uma sensação boa de quem dormiu tudo o que
precisava, após muito tempo. Cama macia, lençol limpo, tudo muito bom, até
perceber que não sabe onde está. Ele se vê em um quarto pequeno, com um guarda
roupas e mesinha, cama e itens diversos. Quadros na parede exibem um casal de
senhores que não reconhece, assim como uma bebezinha no colo de um garoto com
cara de travesso. De repente, barulho de porta abrindo e um sujeito familiar
surge.
— Toma!
— O mecânico fala, enquanto joga um par de roupas limpas em cima do garoto
deitado. — Vista isso, bate um rango
e desça a escada para o porão. Temos que resolver umas paradas.
Andy
levanta devagar, desorientado, enquanto veste a roupa. — no processo,
percebendo que estava nu sob o lençol. — Esfrega os olhos, e sentindo algumas
dores onde recebeu os golpes, sai do quarto. A cozinha da casa é grande, com
uma mesa de madeira no centro, ovos, bacon e refrigerante por cima. Apoiada na
mesa, uma garota já conhecida olha para ele com ar de desprezo.
— A
bela adormecida acordou, pensei que tivesse em coma. — Fala a garota da
oficina, de cabelos soltos na altura dos ombros, dessa vez vestindo um short
largo e uma blusinha da Hello Kitty, enquanto bebe.
— Cala
a boca. — resmunga ele. — Onde tá teu marido?
Ela
ri e aponta com o pé para uma porta velha à esquerda, o garoto então pega uma
porção grande de bacon e enfia na boca, depois vai em direção a porta semiaberta
que leva ao porão. Lá embaixo, o mecânico revira um monte de caixas cheirando a
mofo, fazendo ratos saírem de seus lares em frenesi, enquanto fala:
— Você
é um Licantropo cara, ou lobisomem, se quiser chamar assim. Aposto que ninguém
te disse isso ainda, né? — Ele fala, enquanto observa o garoto, e continua o
assunto quando confirma, pela expressão dele, que realmente é novo na coisa. — Eu
sei disso pois também sou um, e minha irmãzinha Mandy, também. Simples assim.
Andy
fica paralisado com a notícia, não que ele não tivesse associado a ideia da
transformação na lua cheia em um lobisomem com a experiência que teve, mas
ouvir de alguém com todas as letras que você é um bicho de histórias infantis
muda tudo. E ainda saber que um mecânico e a irmã adolescente dele também são,
torna a coisa ainda mais estranha. Só depois repara em outra coisa:
Irmã, é? Bom saber, ele pensa.
— Isso
mesmo que tu deve tá pensando: fui eu
que te meti a porrada ontem. — Jimy fala, enquanto move uma prateleira do
lugar, seu rosto quadrado suando pelo lugar abafado combinado ao esforço — E
vou fazer de novo até você aprender a controlar essa coisa que tem ai dentro,
antes que mate algum vizinho ou seja morto.
— Quer
dizer que, tem como...controlar? — pergunta um Andy finalmente interessado na
conversa.
— Negócio
é o seguinte: toda lua cheia é mais difícil de se controlar, e dominar o bicho
leva tempo. — Jimmy vai falando enquanto organiza a bagunça e abre espaço, as
vezes parando e olhando nos olhos do garoto para enfatizar algum ponto. — E é justo
nesse tempo que tu pode fazer uma merda sem tamanho!
Enfim
ele termina, tira um pano do bolso, enxuga a testa e encara o Andy com
seriedade.
— Tu
pode sair daqui agora e mostrar que sabe “se virar”, e aguentar as consequências,
quando a merda que fizer explodir. — Alguns passos em direção ao Andy, olhar
fixo. — Ou ficar aqui, seguindo minhas ordens até aprender a dominar seu
monstro, pelo menos até a semana de lua cheia acabar.
Jimmy
aponta para o resultado da arrumação com um gesto: o sótão fedorento, cheio de teias
e ratos, um colchão fino e manchado sobre o chão e mais uma diversidade de
coisas inúteis, cercando um objeto em especial que chama sua atenção. — E ai,
qual tua resposta, garoto?
Andy
para um momento para digerir tudo o que ouviu. Ele é um lobisomem, um monstro
muito forte e capaz de devorar pessoas. Não foi um pesadelo, ele não é o único
e aquilo não vai parar de acontecer. Olha para o sótão, olha para o Jimmy, e
por último para a corrente grossa presa na parede com uma coleira de ferro na
ponta. Respirando fundo e olhando nos olhos do mecânico, do seu igual tão
diferente, dá a única resposta que podia:
— Tô dentro.
[...]
Na noite anterior, na mesma floresta.
Em uma área isolada e deserta, Barry Freeman, um dos
irmãos ruivos que por pouco não violentaram a Claire, acredita ter ganho a
noite. Ele é filho de Wally Freeman, o enorme e
divertido homem que bebeu com Adam Tepes em seu castelo. Adam, cujo poder fez
com que o irmão do jovem até essa noite não conseguisse se lembrar do monstro
que quase bebeu todo sangue de Barry, e ele mesmo não sabe dizer o que é ou não
real do que se lembra. Seja como for, ambos mantêm distância da Claire, o que
não se estende a melhor amiga dela, principalmente quando a mesma se oferece
tanto para um deles.
— Mas tu é uma delícia mesmo,
Evelyn. — Ele diz, enquanto explora o corpo da bela garota e chupa seus seios. — Mas chega de aquecimento, quero chegar
nos finalmente.
Ela
ri, se levanta e corre para o mato.
— Quer me comer, gatinho? — Ela provoca, caminhando em direção ao
matagal que os circunda e ficando nua. — Vem pegar, vem.
Ele
sorri, tira a calça e vai em direção a ela.
Em
meio a fria noite, ele a procura em meio a escuridão. Por algum tempo, ouvem-se
apenas sons de risos e brincadeiras da parte dele. Mas esses sons logo se
transformam em gritos de desespero, e por fim, em lamentos agonizantes.
Algum
tempo depois, ela retorna até onde deixou o lampião e as roupas. A jovem está
cheia de sangue nas mãos, mas exibe um sorriso satisfeito enquanto se veste e
limpa o sangue com água e um pano que trouxe na bolsa. Então começa a falar com
alguém ainda nas sombras.
— O
safadinho andava comendo as meninas contra a vontade delas, acho que ser comido
foi um destino bem merecido. Não acha, amigão?
— Não sei se o chefe vai gostar
disso, se souber. Mas que tava gostoso, tava. — responde uma voz gutural e
monstruosa, vinda de um grande e gordo lobisomem que lambe os beiços. — Você devia provar, é viciante.
— Sabia que você ia gostar do
sujeito. — Ela olha para a direção
da cidade, e sorrindo pensa consigo mesma:
Viu Clairzinha, esse ai nunca mais mexe
com você. Sou ou não uma boa amiga?
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