Em
uma cela solitária e fria, a vampira aguarda.
Ela
veste as mesmas roupas de quando foi detida. Provou um pouco da comida e bebida
oferecidas apenas para disfarçar, depois aproveitando as idas ao banheiro para
pôr tudo para fora. Há duas noites sem se alimentar de verdade, ela sabe que a
situação não poderá se estender por muito mais tempo. Para piorar, foi obrigada
a ficar desperta durante certos momentos do dia, o que só foi possível devido à
grande determinação que possui. Mesmo assim ela foi capaz de pouco mais que
manter os olhos abertos, falar brevemente e as vezes, andar de um lado ao
outro.
Aaahhhh, Tepezinho, que menino travesso
você se revelou! — Pensa ela, enquanto caminha de um lado para o outro,
assobiando a introdução da música “Patience”, do Guns in Roses. — Perdendo as
estribeiras por causa da sua namoradinha humana.
Ela
leva a mão até a altura do abdômen, relembrando o momento em que Adam perfurou
seu tronco com a mão nua, até chegar ao seu coração morto.
Parece que você não é tão paz e amor quanto
eu imaginei. Me penetrando desse jeito violento, me deixando totalmente
submissa as suas vontades. — Ela sorri sozinha — Agora estou realmente fudida.
—
Você parece muito alegrinha pra quem está presa, sabia? — comenta a policial
Emma, sentada em um banco do lado de fora da cela, enquanto usa o celular.
Jeanne
apenas a observa, caminhando lentamente até se escorar nas grades. Estampando
um sorriso malicioso no rosto.
— Não
sou advogada, juíza e nem nada, mas se eu fosse réu confessa do assassinato de
uma freira, estaria preocupada. — a policial diz isso, sem tirar os olhos do
aparelho. — E tendo um milionário disposto a me ver mofar na cela, pior ainda.
A
vampira observa a jovem ruiva, de olhos castanhos e belas curvas. Confiante, em
seu uniforme de agente da justiça, portando arma e distintivo, separada dos
transgressores pelo cumprimento da lei e por grades de ferro.
— Você
sabe que esse joguinho não vai durar, não é mesmo? Eu logo estarei fora desse
lugarzinho agradável, de uma forma ou de outra. — Os olhos delas se encontram,
com o sorriso da vampira aumentando. — Você sabe não é, sobre mim e meu amiguinho?
Com um noivo como o seu, com certeza
você sabe.
Emma
fica paralisada quando ouve as palavras da vampira, não imaginava que ela fosse
saber logo sobre o Jimmy.
Desgraçada...ele sempre foi discreto, ela
nem mesmo é da cidade, como raios pode saber que o Jimmyzinho é um lobisomem?
Emma
saca a arma e aponta na direção da cabeça da vampira, ainda a distância.
— Eu
estava desconfiada, e pelo jeito, estava certa sobre vocês. Mal encosta na
comida, sempre demora no banheiro após as refeições, durante todo o dia fica apática
ou dormindo. — A policial aponta a arma e diminui a distância entre elas, mas
não o suficiente para que a vampira possa arriscar algo. — Sei que a cada hora
sem sangue você fica mais e mais fraca, e que assim que perder o controle, vou
ter a desculpa que preciso pra estourar sua cabeça, vadia.
A
vampira segura nas grades, tentando ficar o mais próxima possível da sua
carcereira.
—
Sabe, eu já fui como você: uma policial obstinada, cheia de vontade de fazer a
diferença, e brincando de brigar com gente muito mais poderosa e sabida que eu.
E olhe só como eu terminei! Morri jovem, só que para minha sorte, quem me
matou, tinha outros planos para mim. — Jeanne estende a mão na direção da
policial, que a encara séria. — Me dê um pouquinho do seu sangue, só o suficiente
para que eu me sinta melhor. Faça isso, e prometo esquecer dessa cidadezinha de
merda, de você e do seu homem. Negue-se a me ajudar, e logo essa delegacia vai
ficar inundada em sangue. O seu, dos seus amigos, do xerife...e quando acabar,
do seu noivinho e da irmãzinha dele.
Emma
coloca a arma de volta no coldre, então sorri desafiadoramente para a
prisioneira.
—
Você parece muito confiante para fazer ameaças, enquanto mendiga por gotas de
sangue. Pelo que sei, um lobão como ele pode encarar um de vocês sem problemas,
além de que no seu estado, as ameaças me soam bem vazias.
Nesse
momento a vampira parece seguir alguma coisa com os olhos, quando então dá um
leve tapa no próprio braço. Quando tira a mão, a policial vê um pequeno cisco
preto em meio a uma pequena mancha de sangue. A sanguessuga lambe o sangue que
roubou da mosca, depois lambendo os lábios.
—
Você não me entendeu, queridinha. Não sou eu quem vai fazer isso. Se você
cumprir sua ameaça, eu posso até estar sem metade do crânio quando vierem me
buscar. Mas eles virão, através de brechas da Lei, ou simplesmente passando por
cima dela. — Jeanne se senta de volta na cama, como se quisesse poupar as
forças. — E ai eu pergunto: o que será de vocês quando eles chegarem?
[...]
Delegacia
de Bleak Hill, meia-hora atrás.
Roger
está vestindo um belo terno cinza, com óculos de grau e barba postiça. Porta
documentos falsos e dirige um carro de placa trocada, sua velha arma está bem
escondida, assim como suas intenções. Enquanto dirigia até o local, não pôde
deixar de ouvir as sirenes de viaturas se dirigindo para a direção contrária.
Parece que o Davis conseguiu criar a
distração que prometeu, pensa ele.
Roger
teve uma boa carreira como investigador de polícia, obviamente, teve que
aprender a arte da enganação e sutileza para extrair o que queria de alguns
suspeitos, vítimas, testemunhas ou criminosos. Mas a verdade é que nunca gostou
realmente disso! Um homem sincero e direto, é esse o tipo de homem que ele é.
Mas não está noite.
— Jorge Mayer, advogado da senhorita Hillton.
— ele diz, afetando impaciência para o jovem policial que o aborda. — Leve-me
até minha cliente, por gentileza.
—
Péssima hora, amigo. — Responde o rapaz de dezenove anos, bigode ralo e braços
cruzados. — Está tendo um quebra-quebra no museu da cidade, o xerife está muito
ocupado.
Roger usa seu melhor olhar de desprezo, e percebendo
a inexperiência estampada na face do policial que foi deixado lá, resolve se
aproveitar disso, dizendo:
—
Creio que não fui suficientemente claro. — ele se põe à frente do policial, que
recua instintivamente. — Eu exijo
falar com minha cliente agora! Caso
contrário, algumas ligações serão feitas, e logo você e seu xerife terão
problemas bem maiores que um quebra-quebra para resolver.
O
rapaz coça a bochecha e desvia o olhar, e após alguma hesitação responde:
— Vou
avisar o xerife, senhor. Aguarde aqui na recepção, por favor.
Assim
que o rapaz se afasta, Roger envia a mensagem combinada, para que Paul saiba
quando o Golem poderá agir. Nesse intervalo de tempo entre a detenção da
acusada e sua vinda até a delegacia, o professor Davis e ele reuniram uma série
de informações sobre o local e o rumo de ação que tomariam. A quantidade de
policiais, viaturas, os turnos, a localização das principais câmeras, portas e
janelas. Eles também ficaram sabendo que os policiais tem trabalhado dobrado
nesses últimos dois dias, com certeza para manter a situação sobre controle com
a acusada.
Roger
sabe que está arriscando tudo, sua liberdade e reputação, talvez até sua vida,
se tudo der errado. Ainda assim fez uma exigência, a única para que aceitasse
fazer papel de isca: nenhum policial será morto, não importa o que venha a
acontecer. Não poderia ficar em paz consigo mesmo se isso acontecesse.
Há que ponto cheguei! Colocando minha
vida e carreira em jogo em nome da resposta ao mistério que atormenta minha
vida. A solução do único caso que nunca pude solucionar. Confiar tudo nas mãos
de um intelectual excêntrico e de um vigilante mascarado.
O
policial então retorna, postura tensa e resposta sem jeito.
Sua deixa, Golem. Traga Jeanne Hillton
para mim.
[...]
O
xerife Corlson está em sua sala, diante de um computador e pilhas de
relatórios. Jeanne Hillton continua detida na cela, situação que sabe, não pode
perdurar. Milagrosamente não apareceu ainda nenhum advogado, porém após a
estranha confissão de culpa na noite do hospital, ela negou-se a dar quaisquer
outras explicações a respeito do caso.
Há
dez anos como xerife da cidade, é a primeira vez que Corlson Smith se vê contra
a parede. Cidade pequena, crimes esporádicos e previsíveis, a realidade era
essa até poucos meses atrás. Ele era respeitado pela população e elogiado pelo
prefeito. Mas agora tudo é diferente. Seu pesadelo começou com o
desaparecimento do filho do senhor Freeman, um garoto inconsequente sobre quem
pousavam suspeitas sobre assédio sexual, brigas e acidentes de carro. Ele
desapareceu, e os indícios levam a crer que tenha sido assassinado na floresta.
Pouco
depois, uma freira que estava de passagem pela cidade foi roubada e assassinada
com tiros, depois deixada para queimar junto do carro. Uma boa parte da população
e mesmo da polícia tem colocado a culpa no “Conde Drácula”, o tal milionário
Adam Tepes. Isso é natural, pois há relatos de que o jovem Barry Freeman teria
saído ferido da festa na qual o senhor Tepes foi visto pela primeira vez, no
próprio castelo. A madre jantou na mesma mesa que ele, e testemunhas relatam
ânimos exaltados entre os participantes.
Ele seria naturalmente o principal suspeito, com o sujeito misterioso
que foi visto na mesa com ela como um possível cúmplice. Mas a verdade é que surgiu
um peixe novo no aquário.
Jeanne Hillton
estava na mesma mesa que o Tepes, e posteriormente foi vista discutindo com a
madre. Saiu de carro junto com ele, pouco antes da madre e do outro elemento.
No que sobrou do seu carro capotado e na arma caída próximo de onde foram
encontrados, munição de prata foi descoberta. O mesmo tipo de munição que foi
usada para executar a freira. O mesmo tipo de munição encontrado em cenas de
crimes atribuídos ao “Golem”. O que sugere que ela não só é a assassina da madre,
mas que também tem ligação com o serial killer mascarado que ganhou fama na
mídia nacional.
É
muito estranho que ela tenha simplesmente assumido a autoria do crime e ainda
inocentado o Tepes, uma postura bastante conveniente para o sujeito. Mas as
pistas apontam igualmente para ela, e uma confissão somada a essas evidências
não são coisa que se possa desprezar. É sobre isso que o xerife reflete
enquanto toma um chá requentado e procura um novo charuto.
Com isso eu não só soluciono o caso da
freira, como posso chegar até o tal do Golem! Prender o mascarado, isso sim
pode fazer de um xerifizinho do interior alguém respeitado em todo o Reino
Unido. Isso vale os telefonemas, as noites sem dormir e a comida que tenho
engolido. Dane-se o bando de baderneiros quebrando velharias, os outros podem
cuidar disso. O importante sou eu e a Emma ficarmos bem ligados e a postos, não
posso perder essa oportunidade por nada nessa vida.
Som
de batidas na porta, seguidas do jovem policial entrando timidamente e dizendo:
— Xerife, tem um sujeito ai
na frente dizendo ser o advogado da suspeita. — fala Manson, o policial em
treinamento. — Tá exigindo falar com ela.
O
xerife fecha a cara, a raiva crescente explodindo em uma pancada na mesa. O
rapaz fica paralisado e aguardando ordens.
—
Mande que espere! Já falo com ele. — diz o xerife, contrariado.
[...]
Delegacia
de Bleak Hill, quinze minutos atrás.
Noite
densa, com um silêncio sepulcral ao redor da delegacia. Em uma área aberta, com
mato baixo e terra batida, ele se move como um vulto em direção a porta
lateral. Para alguém revestido por uma grossa couraça, ele se move com incomum
agilidade, buscando o ponto cego das câmeras já conhecidas e do único policial
que encontra de guarda na área.
Em um
movimento ele agarra o homem robusto, com um “mata-leão” inesperado e bem
aplicado, impedindo o homem de gritar e o levando a inconsciência. Paul sabe
ser furtivo e eficiente, quando quer. Consegue ouvir a discussão entre o xerife
e o suposto advogado, propositalmente irritando o xerife e elevando a voz, para
desconcentrá-lo e indicar sua localização. Uma coronhada no disjuntor é o
suficiente para acabar com a luz do lugar. Ordens do xerife, e o policial
cheirando a leite chega para examinar, arma e lanterna em punhos, e um ar assustado.
O garoto imagina se algum dos arruaceiros teria a ousadia de atacar a
delegacia, e se hoje será enfim o dia em que vai ter a chance de disparar
contra um criminoso.
O
Golem surge por trás dele como um fantasma, sabendo que esse alvo é ainda mais
fácil que o outro. Mas a facilidade o incomoda! O Golem não é um espião ou
soldado especial, ele é um monstro, uma lenda. O professor não tem pressa, e
resolve aguardar o policial notá-lo e tentar reagir. Quando o jovem se vira, dá
de cara com o que parece uma estátua de pedra, capaz de desarmá-lo e quebrar
seu braço antes mesmo dele apertar o gatilho.
— Sabe quem eu sou? — pergunta
Paul Davis, sob uma máscara sem expressão, para um oficial da lei desarmado e
assustado.
Ele
então esmurra a parede ao lado dele, à centímetros do rosto do jovem.
— Go...Golem! — o policial diz, com
pernas trêmulas e rosto contorcido pela dor.
O
Golem então ergue o policial pelo pescoço, com apenas uma mão. Sem perceber,
repetindo a cena que sua amada vampira fez há dois anos atrás. Mas dessa vez, é
o garoto quem faz o papel dele.
— A polícia não pode me impedir, suas
armas são inúteis contra mim. — O jovem se debate, pés chutando inutilmente a
resistente carcaça. — O que sou é mais forte que qualquer homem, mais rápido...
e mais letal.
O
garoto então apaga, e Paul se dá conta do que deve fazer.
O
professor adentra o lugar escuro, sua melodia estrangeira cortando o silêncio,
deixando para trás um policial com uma mão e um pé algemados como um porco.
[...]
O
ex-investigador está sentado na cadeira à frente da mesa do xerife, resmungando
sobre as péssimas condições da delegacia em que sua cliente está sendo mantida,
enquanto o xerife termina de trocar as pilhas da lanterna. Nesse momento a
melodia começa. Roger não esperava pela música, imaginava que o vigilante seria
mais cuidadoso dessa vez. Eles se olham por um momento, e o velho policial
sente que algo no ar mudou. Ele juntou as peças! Quebra-quebra, advogado, falta
de luz, Golem, Jeanne.
Em um
instante os dois homens sacam suas armas, o cano da velha arma do Roger apontando
para o xerife, bem na hora em que o mesmo tentava alcançar a própria arma na
cintura.
—
...devo estar mesmo um bagaço pra ser mais lerdo que um velhote como você. —
resmunga o xerife, roxo de raiva.
Roger
o algema a mesa, após tirar as armas e celular do seu alcance.
— Não
se preocupe, senhor Corlson. Ninguém precisa se machucar hoje, só preciso levar
uma encomenda para casa. — Diz Roger, ambivalente. Pois ao mesmo tempo em que
se sente mal por infringir as leis e apontar uma arma para um companheiro de
trabalho, se sente empolgado por reagir antes dele.
[...]
Delegacia
de Bleak Hill, cinco minutos atrás.
Emma
avança silenciosa, com um velho fuzil pouco utilizado em mãos. A arma tem
iluminação própria, o que garante que ela possa usar as duas mãos para operar a
coisa. Ela está tensa, até mesmo um pouco ofegante.
Vamos lá garota, foi pra isso que você
conquistou esse distintivo, não foi? — reflete ela, com um sorriso nervoso. — Não,
não foi! Me tornei policial para proteger a cidade, não para encarar monstros
saídos de lendas.
A
música é algo inusitado. Emma sempre se manteve bem informada sobre o Golem, e pôde
reconhece-la facilmente. Ela sempre imaginou que o Golem fosse um vampiro, e
que o xerife não estava tão longe da verdade afinal de contas. Só que o mais
estranho foi a expressão da vampira quando a ouviu.
Eu jurava que a puta ia dar uma risada maquiavélica
e zombar da minha cara! Só que ao invés disso...parecia assustada.
O
invasor é silencioso, o que só aumenta o susto da policial quando a luz do
fuzil revela um vulto à apenas um metro de si! Emma dispara de forma
descontrolada, criando um inferno de sombras e tiros. Quando cessa, sente um
arrepio por todo o corpo, sentindo a presença do mascarado bem atrás de si.
— Está
atirando no monstro errado. — sussurra a voz gutural.
Ela
vira a arma na direção do som, só que não rápido o bastante. Não antes de ter a
perna quebrada por uma pesada
violenta que a faz gritar, enquanto cai de joelhos e deixa a arma cair ao chão.
Os olhos da policial se enchem de lágrimas enquanto rilha os dentes de dor, e
sente a morte tão próxima.
— ...algeme-a, como fez ao outro. — Diz o
Golem, para um comparsa, enquanto recolhe o fuzil e vira as costas para uma
jovem enfurecida.
O que
eles não esperavam é que em meio a dor ela tivesse espírito para sacar uma
pistola escondida, e atirar na direção do homem barbado que vem ao seu
encontro. A arma dispara cinco vezes, um dos tiros atingindo o ombro do sujeito,
que parece ter sido pego de surpresa. Emma o vê recuar, enquanto leva a mão ao
braço e aponta a arma para a direção dela, que sequer consegue se mover...mas
estranhamente hesita. E se arrasta para fora do recinto sem disparar um só
tiro.
Quando
ela tira os olhos do alvo anterior, o Golem já está ao seu lado. Ele chuta a
arma das mãos dela, depois atingindo seu rosto com as costas da mão. É um golpe
duro, e Emma se pergunta se continua consciente por ser muito durona ou muito
teimosa.
— Maldito...malditos todos vocês, vampiros
desgraçados! — Ela berra, enquanto luta contra as lágrimas e a dor.
Por
trás da máscara inexpressiva, Paul a observa com interesse.
— Então você sabe o que ela é. — A voz
gutural afirma. — Mas se engana sobre o
que sou.
Emma
o encara, ciente de que ele pode matá-la quando bem quiser, e que essa não é
hora de ter medo.
— E
que merda você é, então?
De
costas para ela, ele caminha lentamente na direção da porta, e a abre usando a
chave que a policial tinha guardada em seu bolso, para o espanto da mesma.
— Sou um
predador, um caçador de monstros. — Ele diz, enquanto empurra a porta. — Sou o túmulo de pedra dos mortos que ainda
caminham. — Ele entra. — Eu sou Golem.
[...]
A
vampira aguarda, sentada em sua cama na cela. Aguarda, simplesmente por não ter
qualquer outra opção. Quando a escuridão se fez presente, pôde enxergar a
surpresa e o medo nos olhos da jovem policial. Emma Watson, que garota
adorável! Como ela gostaria de transformá-la em uma vampira, tal qual fizeram
com ela há tantos anos atrás. E no caso da Emma teria um tempero a mais, pois
ela é noiva de um lobisomem! Que delicioso seria para Jeanne acompanhar o
destino do amor dos dois, se seria forte o suficiente para resistir a mudança.
Se o lobão conseguiria olhar para ela e enxergar a mesma garota adorável que
amava, ou apenas um cadáver bebedor de sangue, e destrocá-la na primeira lua
cheia.
Devo ser mesmo uma mulher infeliz,
sentindo tanto prazer em azedar o romance dos outros. — reflete ela, depois rindo
de si mesma — Só mesmo a proximidade da morte para me tornar tão autocrítica
assim.
Mas
isso não é hora de pensar na ruiva, ela percebe, há um problema bem maior às
portas. Pois após a escuridão, onde contemplou o medo nos olhos da policial,
foi a vez de ela mesma experimentar o medo. Isso após ouvir a música.
O safado veio me buscar. Não acredito!
Nem o Adam e nem meus amigos, mas justo o único filho da puta que eu não
esperava ver nessa noite.
Após
um tempo que pareceu uma eternidade, após os tiros e gritos, a porta se abre. E
dela sai um uma figura imponente, andando com calma calculada e carregando
desleixadamente um fuzil. Aos poucos a máscara de pedra vai se tornando cada
vez mais nítida aos seus olhos acostumados ao escuro, uma capa grossa cobrindo
uma grossa couraça capaz de proteger um corpo humano de tiros e morte.
— Jeanne
Hillton. — Diz o monstro de pedra. — Vampira,
assassina: monstro.
Ela
permanece sentada na cama, de pernas cruzadas e olhando para as unhas da mão.
Tentando não demonstrar qualquer sinal de medo.
— O
Golem. Já ouvi falar um bocado sobre você. — Ela fala, olhando
desinteressadamente para ele. — Sei que não é vampiro, pois não consigo sentir
você como um igual. Lobo também não é, se fosse não conseguiria usar essa
casca, e na verdade nem teria medo dos tiros. Logo, só posso supor...
Um
som alto sinaliza o tiro de fuzil que atinge a vampira no ombro esquerdo, o
impacto a jogando contra a parede. O ferimento tira muito menos sangue do que
se esperaria, devido ao pouco sangue que ela ainda retêm no corpo morto. Mas o
estrago é bastante feio.
— O tempo das palavras acabou. — Paul
sentencia.
Ela
salta então na parede, usando o pouco de sangue que ainda tem, para um último
gesto de ousadia. Sorrindo para seu executor, ela diz:
—
Agora é só me dar minha Magnum, e juntos poderemos reviver aquela divertida
noite. — Som de passos entrando pela porta. Ela com as presas de fora, sorriso
astuto. — Não concorda... professor
Davis?
O
Golem olha para o Roger entrando pela porta, com uma pistola em mãos e um pano
estancando o sangramento. Seus olhos atentos na direção da mulher que
investigou e perseguiu inutilmente por anos. Paul então retira a máscara,
revelando um rosto humano e sorridente para a vampira. Roger e Jeanne confirmam
suas principais suspeitas, ela sobre Paul Davis ser o Golem, ele sobre Paul
também, só que muito mais importante, sobre ela ser um vampiro.
Paul
joga o fuzil para longe, de trás da capa tirando um objeto prateado e
brilhante. Uma corrente. Ela o encara
com ar de indignação, ele apenas sorri, deliciando-se com a raiva dela. E então
assubia, como faria para um cão.
— Vem
Jeanne, vem com o papai. — Ele balança a corrente. — Você será meu novo bichinho de estimação, agora.
Instantes
depois, a vampira é arrastada pelo chão, puxada por uma corrente de prata presa
ao pescoço. Na haste contrária da corrente, o Golem a carrega com firmeza,
ciente da incapacidade da vampira revidar de qualquer forma. Roger vem logo
atrás, observando meio atônito ao espetáculo de dia das bruxas. Quando passam
pela policial ferida e algemada, os olhos da vampira encontram com os dela.
— Não se preocupe, policial. — fala o
Golem — Ela nunca mais causará problemas
a essa cidade.
Jeanne
rilha os dentes pela dor causada pela prata, Roger observa o rosto da
policial...e vê um sorriso nele. Jeanne também vê. E grita. Grita de ódio, de
dor...e de medo.
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