Cemitério
de Santa Margareth, 19h00.
É uma
noite abafada, com uma chuva fraca e inconstante caindo sobre aqueles que velam
os mortos. Um enterro em uma cidade pequena é sempre um acontecimento, e a
quantidade de pessoas presentes não deixa a desejar. Uma multidão de rostos
apáticos em trajes negros, é essa a visão que Adam encontra ao sair de sua
limousine, uma multidão de olhares curiosos e comentários maldosos, mas tudo
isso não foge do esperado. Ele faz cumprimentos contidos e educados enquanto
abre caminho por eles, em um terno preto como seus cabelos presos, se esforçando
para demonstrar pesar pela morte do jovem Barry Freeman, ao invés de sorrir
agradecido por quem quer que tenha feito isso.
Deixo de matá-lo, e mesmo assim ele morre
tão pouco depois. Algumas coisas simplesmente tem que ser, Adam pensa.
— Meus
sentimentos, senhor Freeman. — Ele diz, enquanto aperta a mão do homem grande e
gordo, mas hoje, seriamente abatido. — Que sua família possa encontrar a ... — Sua
voz é cortada quando o homem o puxa para um abraço que deixa o vampiro
desconcertado.
— Obrigado
por vir, Tepes. — diz Wally Freeman, olhos fundos de muito chorar — Fiquei
sabendo que meu garoto e você andaram se
estranhando, por isso eu fico grato de verdade por ter vindo ao funeral
dele.
Observando
à tudo, a verdadeira responsável pela morte do jovem cujo corpo foi devorado, e
que a polícia só encontrou os ossos recentemente: Evelyn. Ela se diverte intimamente com a cena, deliciando-se em seu
papel de amiga sofrida. Em um conjunto preto ousado, encara o vampiro contra o
qual lutou faz pouco tempo, imaginando o que ele faria se soubesse o que ela é
realmente.
— Evelyn,
pelo menos disfarça. Dá pra notar seu sorriso. — Reclama Claire, beliscando o
braço da amiga. Claire está em um vestido preto formal, com seus cachos loiros
em coque, sem nenhuma joia e com maquiagem leve. Está magoada com o rapaz, mas
ainda se lembra de como foram amigos quando crianças.
— Tô
aqui rindo da sua cara, quando o Conde Drácula vier falar com você. — Ela diz,
estudando a face da amiga, notando o nervosismo e ansiedade misturados nela. —
Só espero que não esqueça o que ele te fez, e vá querer fazer papel de otária.
—
Como se eu pudesse esquecer...
Claire
o observa em seu porte galante, com as finas gotas de chuva caindo sobre ele,
aquela pele alva contrastando com cabelos negros como a noite, e então seus
olhos se encontram. Ela pensa em desviar o olhar, mas algo na cena a prende.
Algo naqueles olhos a remetendo há um outro tempo, no mesmo cemitério, debaixo
da mesma chuva, e com o mesmo homem. Por um momento ela contempla Adam Tepes em
roupas antigas, cercado por pessoas vestidas da mesma forma, mas ainda assim o
mesmo homem. Sente o coração bater num ritmo conhecido, sem perceber levando a
mão ao pescoço, seu corpo todo vacilando diante de um olhar capaz de dominá-la
por completo sem sequer uma palavra.
— ...
Claire? — a voz do vampiro a traz de volta à realidade, fazendo a garota corar
ao perceber a proximidade dele.
—
...bo-boa noite, senhor Tepes. Digo, Adam. — Ela desvia o olhar de vergonha,
tentando recuperar a calma e se forçando a lembrar que ele não merece o seu
sorriso.
Não acredito...eu fiquei encarando ele
até agora, mesmo?, se pergunta.
— Já...
faz um tempo, né? — Ela pergunta, instintivamente recuando um passo, e
sufocando um sorriso. — Não esperava te encontrar logo aqui.
— Tem
um morto, um caixão, quer lugar melhor para encontrar o Drácula? — Evelyn fala
sorrindo para o casal, Adam ignora o comentário enquanto sorri para a garota,
por um instante captando alguma coisa estranhamente intensa no olhar da loba.
— Um
tempo bem longo para mim. Lamento por isso. — Ele diz, parando ao lado das
duas.
As
palavras ecoam no ar, e o trio permanece calado enquanto a cerimônia prossegue,
com cânticos e a voz de um velho padre confortando corações que buscam por isso.
O corpo desce a cova sob choro da família, uma chuva intermitente e rosas
lançadas. Enquanto cada família presta suas condolências aos Freeman, incluindo
Thomas Winnicott, sua esposa e a própria Claire, Adam decide que é hora de visitar
o local onde os restos das pessoas que conheceu em sua era repousam. Após
alguns minutos vagando, percebe estar sendo seguido.
— Você
não acha que já é hora de ir embora dessa cidade, não? — Evelyn o encara, se
aproximando aos poucos do vampiro. — Não acha que já fudeu o suficiente com a vida dela, já pensou no quanto estar perto
de você pode ser perigoso pra ela? Que
tem coisas por ai muito piores do que o Barry!?
Adam
a encara surpreso, enquanto a garota segura seu pulso com mãos que ficam cada
vez mais fortes, ao ponto das unhas se encravarem na pele do vampiro. Com olhos
vermelhos e caninos que se projetam, a garota parece lutar contra um instinto
selvagem de destroçar o jovem ali mesmo. Sexo e morte, essas são duas palavras
que fazem o coração da garota ferver, e o vampiro seria perfeito para ela
saciar seus dois desejos mais intensos e primitivos. Mas por amor à amiga, e
apenas por ela, a vontade de matá-lo supera qualquer outra.
—
...uma loba? Então é isso que você é? — Ele a encara com desprezo, esmagando o
pulso dela com sua outra mão, e começando a subjugá-la.
—
...seu problema nem sou eu, seu cuzão! — Ela fala com dificuldade, sentindo a
dor e tentando se soltar dele. — Melhor abrir bem os olhos.
Então
Adam se dá conta de uma presença que não pode ignorar. A presença de outro como
ele. Em um movimento rápido ele desvia de uma mão certeira mirando seu coração,
o vulto é rápido e pequeno, mas o filho do Drácula consegue acertá-lo no
estomago e lançá-lo contra a parede com um chute que mataria um humano comum. Sua
surpresa aumenta quando percebe que a presença maligna emana de uma criança, um
menino condenado a mesma maldição que ele. Em um movimento o vampiro mais velho
segura o menino pela mão e o ergue no alto.
—
Ouvi minha cadela latindo, ela tá incomodando o senhor? — o menino loiro de
roupa social preta pergunta, com um sorriso no rosto e presas a mostra.
—
Quem é você, criança? E quem foi o louco que te fez isso? Foi ele quem mandou
você me atacar?
O
vampirinho balança o corpo para pegar impulso, e com um giro atinge Adam no
queixo, fazendo o vampiro soltá-lo. Com presas de fora e olhos de assassino ele
avança contra o herdeiro do Dragão, golpes rápidos e letais detidos sem dificuldade
por alguém mais antigo, poderoso e experiente. Evelyn já é totalmente humana de
novo, e como tal, congela diante do olhar de dois monstros capazes de matá-la
facilmente.
—
...vô fazer minha parte, como foi combinado com o bando. Cuidem da Claire, ou
prometo que mato vocês. — é uma ameaça vazia, mas é o melhor que ela tem antes
de ir.
Quando
Adam a ouve dizer isso, acerta um tapa com as costas da mão que lança o
vampirinho para o alto, depois o agarrando pelo pé e lançando contra a
licantropo covarde. Com o impacto, ambos caem no chão, ao que Adam observa com
ar superior, emanando uma aura maligna de grande intensidade, capaz de
impressionar o garoto e deixar a jovem arrepiada.
—
...o que a Claire tem a ver com isso? — pergunta.
— Eu
quero o melhor pra Claire, assim como você. — Diz o menino caído, enquanto puxa
o pulso de uma Evelyn assustada e encrava os dentes nele, deixando a garota
furiosa ao sentir seu sangue sendo drenado pela criança vampira. Ainda
segurando o pulso ensanguentado dela, ele diz. — É só nos dar seu sangue, Tepes.
O sangue do Filho do Dragão das Trevas, o único forte o suficiente para trazê-lo de volta para nós.
—
Trazer...quem? E quem seria nós? — Adam pergunta, temendo a
resposta.
— O Empalador, quem mais? — Ele se coloca lentamente de pé e olha para Evelyn,
que segura o pulso e se levanta com dificuldade. — E nós somos muitos, todos
aqueles que aguardam a volta do Príncipe dos Mortos, do único vampiro digno de
reinar sobre todos.
Adam salta
sobre eles, em um momento segurando o menino pela face, olhos vermelhos e
presas de fora.
— Meu
pai está no túmulo, e é lá que vai ficar. Quem tentar mudar isso, se juntará a
ele. — Ele encara aqueles olhos infantis, mais que já viveram muito mais do que
parecem. — Se não fosse uma criança, eu o mataria agora.
—
...é? E como você explicaria pra Claire que matou o amiguinho dela? — Evelyn
pergunta, encarando Adam com cara de deboche.
—
Tom!? — A voz da Claire à distância faz todos olharem para ela, o jovem Thomas
com um sorriso de vitória no rosto.
Adam
apenas observa a aproximação da mulher que ama, cabelos levemente molhados de
chuva e olhos de um verde que ele nunca esqueceu. E teme.
—
Adam... Evelyn... Tom...o que tá acontecendo aqui? — Ela pergunta, confusa.
—
Esse pirralho fujão que tá aqui pentelhando o Tepes, miga! Você devia dar umas
boas porradas nele. — Evelyn fala, disfarçando o nervosismo e escondendo o
pulso ferido.
— Eu tava só trocando uma ideia com seu
namorado, Claire. — Tom diz, sério.
Adam
perde a ação quando o vê parado ao lado dela, segurando em seu braço.
Sou mesmo um monstro amaldiçoado,
atraindo cada vez mais monstros para perto dela!
— Que
namorado o que! Para de falar besteira! — Ela reclama, enquanto dá um tapa no
pescoço dele, entre risos e vergonha. Depois olha para o Adam, decidida. — Eu e
o Adam somos amigos, certo senhor Adam Tepes?
Ela
diz isso e estende a mão para ele, assim como na vez em que se conheceram.
—
Sim, amigos. — Ele diz, e aperta a mão dela. Esse simples contato, acendendo
uma chama entre eles.
Ela
sorri, e o abraça. Um abraço forte, que revela tudo aquilo que eles gostariam
de dizer mas que por motivos diferentes calam.
—
Isso é pra quebrar esse clima ruim que ficou entre a gente, se é pra sermos
amigos, temos que ser de verdade. — Ela diz, sorrindo.
—
...sim. — Ele diz, começando a sentir um desespero apertando a garganta.
—
Vamos Claire, traz logo o pivete! — Grita Evelyn, buscando se afastar dali o
mais rápido possível.
—
Então isso é um até breve, Adam. — Ela diz, puxando o garoto e dando tchau para
o homem que ama.
— ...decida rápido. — O vampirinho apenas
sussurra, mas Adam entende. Os dois vampiros se encaram... e então se afastam.
[...]
Casa
dos Duncan, 6h00.
O
silêncio da manhã é quebrado pelo som de tiros.
Andy
abre os olhos assustado, totalmente alerta, ciente da proximidade dos tiros. Em
um instante ele se põe de pé, deixando para trás o velho colchão cercado por
suas outras coisas. Andy se lembra que desde que chegou a Bleak Hill não ouvia
esse som, algo tão natural na vida de um ladrão vindo da área mais barra pesada
de Manchester.
Vestindo
apenas uma bermuda em uma manhã fria, descalço e descabelado, ele avança em
direção a escada que leva a cozinha. Quanto mais próximo, mais sútil,
silencioso... e atento. Felizmente para ele, a porta que leva ao porão está trancada
por dentro, como ele exigiu que fosse, após ser pego mais de uma vez pelo casal
de irmãos, trocando de roupas ou assistindo programas adultos na tv. Sempre de
propósito, isso é certo. Ele sabe que eles são desse tipo. Mas agora a chave
dali é sua, prova de que é o senhor daquele pedaço do território dessa matilha,
de que foi totalmente aceito nessa estranha família.
Família que agora, está ameaçada.
O
garoto abre a porta sem fazer qualquer som, resultado de anos de prática. Por
trás dela, som de passos pesados e de outra pessoa se debatendo. Ele observa
ainda escondido, apenas o suficiente para enxergar o grande e gordo homem que
carrega Mandy Duncan nos ombros. Boris,
ele se lembra.
A
matilha, Andy se dá conta, Jeff... Malcon!
Andy
se esgueira pela porta, dando de cara com uma jovem com olhos cerrados de ódio
e rosto machucado, resultado de uma mão pesada que a acertou repetidamente, até
subjuga-la. Os olhos dos dois se encontram, e ele vê medo neles.... E ternura
também.
Se... esconde. — Ele
lê os lábios mexendo, mesmo que sem emitir som.
Andy
sorri para a mecânica assustada, então se ergue e acelera na direção de um
Boris que ignora sua presença ali.
Foi mal, Hello kitty, pensa ele, eu nunca
fujo de uma boa briga.
De
repente, uma rajada de tiros rouba o sorriso do rosto dele. Andy desvia por
reflexo, se jogando para trás de uma divisória da cozinha de cerca de um metro.
— Hoje
é meu dia de sorte. — Fala o Jeff, enquanto balança uma semiautomática na
direção do esconderijo do garoto. — Quem diria que o filho da mãe se escondia
bem aqui?
Mandy
grita, assustada. Sem saber se o garoto está vivo ou não após os tiros. Boris
para um momento e olha para o careca de piercings, que exibe um sorriso amarelo
e sádico, de quem esperou muito por essa chance. Então o homem simplesmente
retoma seu caminho, ignorando os chutes que a garota tenta acertar, já sem
forças.
— Vê
se não apanha de novo, careca. Esse ai não tá no trato, pode virar carcaça. — Boris
diz, com um sorriso maldoso.
— Cala
a porra da boca, e leva logo o pacote, baleia! — Grita Jeff, enquanto busca
melhorar seu campo de visão para acertar o garoto escondido. — Se sair calminho
e com as mãozinhas pra cima eu não te meto bala, tá ligado?
“Pacote”?
Andy
tenta pensar com clareza, criar um plano para se livrar do inimigo e chegar até
o Boris antes que ele fuja com a Mandy. Tenta não pensar no que podem ter feito
com o Jimmy e a Emma. Tenta não lembrar do que o líder da matilha disse sobre o
Boris na noite em que foi apresentado ao bando “as vezes come até gente”.
Só
que a raiva é mais forte.
— Tá
surdo, maluco? — Grita Jeff — Eu já mandei...
Antes
que termine a frase, ele assiste ao garoto saltando como um gato por cima
daquilo que estava entre eles. Sem plano, apenas confiando na própria
velocidade. Por um instante Jeff para, olhos nos olhos, ele lembra da noite em
que quase foi morto por ele, e trava.
Foi por só um instante, mas esse instante foi o tempo que o garoto precisava.
Andy se joga contra ele, fazendo ambos se chocarem contra o armário! Após uma
chuva de objetos de cozinha caindo sobre eles, e de uma sequência de tiros
desperdiçados, a arma cai da mão de um motoqueiro assustado, congelado pelo
olhar cheio de ódio do garoto.
Jeff
enxerga o monstro dentro dele, a fera selvagem e implacável capaz de destruir a
tudo com sua fúria. Um rio de ódio aproveitando qualquer oportunidade de varrer
tudo à sua frente. E sente medo, medo como nunca sentiu antes. Andy derrama sua
fúria sobre ele, uma chuva de murros descendo freneticamente sobre um inimigo
desestabilizado.
Monstro...Monstro maldito, Jeff pensa,
com suor escorrendo da testa.
Jeff
tenta fugir ou revidar, mas a verdade é que o garoto é excepcionalmente rápido
e forte, fazendo o motoqueiro cuspir dentes e sangue. Andy bate, bate e bate
novamente, liberando a raiva e frustração em cima do lobo desgarrado. Cego pelo
ódio, não percebe a aproximação da pessoa que desce as escadas. Muito menos a
pistola que ela aponta em sua direção, apenas ouve o som do disparo e sente o
corpo deslizar para o lado.
— Ai,
ai. Apanhando de novo, hein Jeffinho? — Brinca Evelyn, usando uma toca que
esconde o cabelo e metade do rosto.
Enquanto
ela se mantém a uma distância segura apontando a arma, Jeff se arrasta para
longe do Andy, que leva a mão ao ombro ferido.
— Pena
tudo acabar assim, hein, gatinho? — Ela esnoba, exibindo um sorriso zombeteiro
e brincando com a arma. — Se tivesse se juntado com a gente... mas pelo jeito,
preferiu ficar brincando de casinha.
Andy
assiste ao sujeito chegando até a porta e se escorando nela para se pôr de pé.
Ouve o som do jipe sendo ligado, onde sabe que o Boris fugirá com a Mandy.
Então vê uma chance.
— Eu
até queria ficar tirando uma da sua carinha, mas tenho compromisso, gato,
então... — bye, bye, ela diria ao apertar o gatilho, mas não teve tempo.
Andy
agarrou uma panela com o braço bom e arremessou com toda força contra a cabeça
da garota. Evelyn dispara duas vezes antes de ser atingida, mas o garoto é
rápido o suficiente para rolar ao mesmo tempo em que faz o ataque. Ela cai de
joelhos por conta do impacto de raspão, ciente que se aquilo pegasse em cheio
estaria morta.
—
Filho...da...puta... — Ela leva a mão a cabeça, sentindo uma dor intensa e tudo
o mais girando. Quando percebe, a arma já foi retirada da sua mão.
—
Você vai ficar aqui esperando, vadia. — Ele diz, e dispara na perna dela.
Evelyn
grita de dor, e rola pelo chão, resmungando todo tipo de xingamentos e palavras
sem sentido. Andy corre até a porta, ignorando a dor do ombro latejando. Quando
vê a rua, percebe que o jipe já está longe, acompanhado de uma moto pilotada
pelo Malcoln, ambos fora de alcance. Ele sente a frustração sufocante...e então
vê o Jeff.
O
motoqueiro sobe na moto com dificuldade, ainda zonzo e acabado pela surra.
Quando o veículo percorre os primeiros cinco metros, seu piloto é atingido por
uma bala na coluna, caindo da moto em pleno movimento.
—
Merda...merda...merda... — Entre grunhidos de dor, o homem cai de rosto virado
para cima.
Ele
ouve o som dos passos lentos do garoto em sua direção, que para ao lado dele,
com olhos cheios de ódio e mão segurando firme a pistola. Ao vê-lo, Jeff perde
a voz, esquecendo até mesmo da dor. Os olhos de Andy Valentine o paralisam,
olhos de um predador esperando para dilacerar a presa já abatida.
—
Andy...cara....você precisa de mim. — ele fala, com lágrimas nos olhos. — Eu
sei onde eles vão, cara. Posso te levar até o Malcon e tua menina.
O
garoto o encara com desprezo, ele engole o medo, e prossegue:
— Só
deixa os canas levarem a gente para o hospital... — gemido de dor — ...a noite
a gente se transforma e fica bom, daí te ajudo a fuder com a vida do filho da ...
— Eu devia ter te matado naquela noite. Devia
ter acabado com todos vocês. — Andy cospe as palavras, junto do sangue que
sente na boca.
— Ju- juntos, cara! — Jeff se desespera mais,
sente a tensão aumentando — Eu te ajudo a salvar a guria, te ajudo a matar o
Malcon...eu te aju...
—
Devia ter matado. — Andy aponta a arma para a testa de um homem desesperado. —
E vou matar.
—
Não, não, não... — a vida e as súplicas do Jeff são interrompidas por uma bala
que se aloja dentro de seu crânio.
Em
meio ao fraco som de sirenes distantes, o garoto caminha de volta até a casa,
sentindo o sangue escorrendo do ombro por todo corpo. Ele passa com dificuldade
por uma porta arrombada, depois por uma cozinha cheia de buracos de bala e, com
passos lentos, sobe a escada que levará aos quartos da Mandy e do Jimmy, onde a
Emma tem dormido com ele desde que teve a perna quebrada. Ignora no caminho uma
Evelyn chorosa, que aperta a perna baleada e encharcada de sangue, tremendo de
medo ao ver a face do assassino do seu parceiro de gangue.
Andy
sobe, mas com passos pesados de medo. Não medo da matilha, não medo da polícia,
de vampiros ou lobos. Ele teme o que pode encontrar lá, teme o que podem fazer
com a garota mais interessante que já conheceu. Medo de voltar a ser apenas um
lobo solitário.
História legal. Espero que você a termine.
ResponderExcluirQue bom que você gostou, é adaptada das histórias que ocorreram na mesa de jogo do meu grupo de RPG. Pode ficar tranquilo que vou continuar sim, faltam só mais uns 8 capítulos para encerrar essa saga.
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