Algumas coisas tendem a se repetir.
Faltavam
nove noites até meu casamento, quando Vlad fez o que fez. Peter foi massacrado
e deixado em um estado muito além daquele em que um mortal sobreviveria, e eu
fui sugada de forma violenta, até quase perder os sentidos, diante dos olhos tristes
e impotentes do homem a quem eu já amava. Quando tudo terminou, juramos fugir
juntos.
A
verdade é que apaguei pouco após isso. Como ocorrera meses atrás, fui cuidada
por Marjorie. Suas poções e unguentos ajudaram meu corpo a se restabelecer, e
mais do que nunca, ela fez seu papel de vigia. Meu quarto não era mais meu:
Marjorie dormia ao meu lado, uma garantia de que eu não tentaria nada, agora
que os planos dela estavam tão perto de se concretizar. Também tinha Alice, que
me trazia as refeições e me ajudava no banho, de modo que não tinha mais
qualquer direito à privacidade. Disseram-me que o príncipe estava em reuniões
importantes com as autoridades da capital e cidades vizinhas, e que retornaria
na noite anterior ao casamento. A distância daquele homem era um alívio, por
outro lado, a falta de informações sobre Peter era uma tortura. E assim se
passaram seis noites.
Na
sétima, algo de sobrenatural ocorreu.
— Você pode me ouvir? — Perguntava
uma voz em meus sonhos. A voz de Peter, doce e suave. — Não há distância que me impeça de chegar a você, Charlote.
— O que ele te fez? — Perguntei
em pensamento, temerosa da resposta.
— ...não importa. Esteja pronta amanhã, fugiremos
enquanto o castelo dorme. — Um momento de silêncio. — Ou terá você desistido de
arriscar tudo?
— Já lhe disse: para mim é fuga ou morte.
— Falei eu, decidida. — Estou esperando por você.